Onde é que encontro a perfeição solene
Do sol poente?
As variadas cores saltam aos olhos
Em um instante em que tudo é tão efêmero
E tão urgente.
É ao contemplar o crepúsculo que eu permito os sentimentos
Que correm pelo meu corpo, tal qual uma carga de eletricidade.
E entregando-me a esse vulnerável momento passageiro,
– Para que esses mesmos sentimentos também se ponham e despeçam-se de mim, movendo-se junto com o sol –
Eu calo essa voz desconhecida e contemplo tudo, silentemente.
Sinto-me deslocada progressivamente, violentamente…
Num grito estridente, destacado e autoflagelante,
Me descubro uma fraude prestes a ser flagrada em uma infâmia desconcertante.
Eu desesperadamente não me encaixo em nada, a não ser aqui, diante deste sol
Que vai partindo sem dizer nem adeus, sem qualquer cerimônia.
É aqui, nesse único segundo pálido, que eu compreendo inconvenientemente
Todos eles, príncipes na vida, Fernando…
Aqui, resta apenas a escuridão abandonada pelo ocaso.
Uma réstia de memória desconectada do espetáculo poente.
Falham-me as palavras todas,
Abandonam-me os pensamentos mais primários.
Tropeço a resfolegar,
E logo estou despida diante de mim.
Sigo nua dentro do meu próprio corpo,
Mirando cada defeito, toda falha, em metódico escrutínio,
Mas louvando cada descoberta.
E quando o céu já se vê engolido pela escuridão,
Salpicado de estrelinhas brilhantes,
Todas elas delicadas e alheias à minha angústia,
É que se desfazem as inseguranças estapafúrdias e infundadas.
Não, não estou mais amuada.
Abraço a noite em celebração, encontrando a gratidão.
Encerro um ciclo,
Renovo-me nas coragens, nos ímpetos e ousadias – quase tardias.
Estreita-me a intimidade e, corada, já me encaixo
Perfeitamente em tudo que me rodeia.
E aquela perfeição solene,
Que eu buscava insistentemente,
É celebrada cerimoniosamente na noite vigente.