Onde é que encontro a perfeição solene Do sol poente? As variadas cores saltam aos olhos Em um instante em que tudo é tão efêmero E tão urgente. É ao contemplar o crepúsculo que eu permito os sentimentos Que correm pelo meu corpo, tal qual uma carga de eletricidade. E entregando-me a esse vulnerável momentoContinuar lendo “Despida ao poente”
Arquivos da tag:Poesia
Rotina do poeta
sentimento analítico
Dia desses eu vinha dizendo que estava sem tempo para dedicar aos dramas da minha vida. Sim, lembro-me bem que eu disse não ter mais tempo para esse romantismo ao qual eu me envolvia tão facilmente.Fiquei surpresa ao ver, resumido e pronunciado por mim mesma, uma nova vertente surgindo em meu ser. Se eu endureciContinuar lendo “sentimento analítico”
Vende-se:
Memória da infância, Cristais e bombonieres, Baccarat, Bico de Jaca… Estilhaçados na lembrança, História familiar,Poltrona de veludo, desveludada, peculiar,Papel de parede, amarelado e reformado,Oratório, arte sacra, empoeirado. Vende-se com urgência:Fumante na janela,Gomas na lapela,Aulas frustradas de violão,Led Zeppelin e The Beatles no bolachão,Polar de sábado,Sorvete de uva e bombocado. Aceita-se conformismo como pagamento.
Um assunto…
… que me faz parar tempo precioso o suficiente para escrever sobre;… que me irrita a ponto de não parar de pensar sobre;… que foge da mente e eu brigo com ela para que ele volte;… que me inspira quando vejo seus traços uma mídia qualquer;… que eu evito;… que eu invento;… que eu inverto;…Continuar lendo “Um assunto…”
As depressões
Em mim, dentro de meu espírito, já tive – o que podemos chamar de – contato com dois tipos de depressão.Uma é aquela que te assusta, não te pertence, contra a qual você luta para dela se livrar.A outra é mais densa, má e hostil. Ela te abraça faz com que você ame suas lágrimas.Continuar lendo “As depressões”
Hoje é dia…
… dia de poesia…decanta o sentimento,dilui a lágrima,apura o risoe torna em palavras tudo isso.
Pai
São lágrimas para os outrose o motivo mesmo nem se banha nelas.Nem sabe de sua existência…Saberia? Um crescente medo dilata-me os poros.Dói.Há qualquer semelhançaCom aquele monstro.Aquele que eu criei… Silêncio berrante, errante.Tenho medo de desfazer tudoe que nada nele se mova.Por que se moveria? E se ele um dia for sem aviso?Morro junto, e comContinuar lendo “Pai”
Outro Banzé
Ontem o Banzé morreu.Dócil, alegre e com uma vidinha tão comum e tranquila que chegava a ser entediante para a gente. Mas não para ele! Dá a pata, pega o osso, focinho na janela para dar o “oi” simpático de costume.Banzé, quatorze anos atrás, veio embalado no colo de seu pseudo-dono, dentro do agasalho deContinuar lendo “Outro Banzé”
Catorze de Junho – Homenagem
Cerremos esta porta.Devagar, devagar, as roupas caiamComo de si mesmos se despiam deuses,E nós o somos, por tão humanos sermos.É quanto nos foi dado: nada.Não digamos palavras, suspiremos apenasPorque o tempo nos olha.Alguém terá criado antes de ti o sol,E a lua, e o cometa, o negro espaço,As estrelas infinitas.Se juntos, que faremos? O mundoContinuar lendo “Catorze de Junho – Homenagem”
Ovação aos Quocientes
Eu, que nem tinha o que dizer, fui tropeçando em vírgulas e sopetões. Eu, que nem sabia o que escrever, acabei rolando o carvão na celulose. Quando dei por mim, havia um discurso pronto, uma plateia formada, animada… reanimada pelas vastas viagens do meu cérebro. Eu não vi a bailarina girar nos dois sentidos eContinuar lendo “Ovação aos Quocientes”
Tinta no Papel
Atravessa-me ardidamente a vontade de espalhar no papel a tinta, perdidamente contestada à ponta da esferográfica. Atravessa-me qual a lança ao corpo no inimigo o desejo de juntar de volta toda essa tinta espalhada e ver que dá em nada. Vou expurgar o embrulho que alarga meu ventre e abafa-me a garganta. Essa ânsia nãoContinuar lendo “Tinta no Papel”
A poesia da vida
Houve um tempo em que os pesadelos assustavam mais e o acordar é que era o alívio. Era um tempo de inocência e descoberta. Fui crescendo… o medo de estar acordada era tanto que o sono era o maior refúgio. Esta época foge à minha memória algumas vezes. Restam diários, que ainda não quero reler.Continuar lendo “A poesia da vida”
hiato
Sinto saudade das pautas…Ando pouco inspirada.O capitalismo devorou minha criatividadee privou minhas epifanias agnósticas. É fase. Oh! Um Déjà vu!Todo hiato intelectual é seguido de mudança em mim. De Pessoa, sempre aprendo que “a vida passa e não fica, nada deixa e nunca regressa”. Amanhã é sempre uma nova vida, É, talvez, o fim deContinuar lendo “hiato”
Ela é a Inocência dos Anjos
A lua está laranjaE a noite, nublada.É aquele final de tarde atrasado do horário de verão.Ouço, aqui da janela, as crianças a brincar no parqueE os carros passando na sempre agitada avenida onde moro. Hoje, no dia dos mortos, mostrei à minha avóA poesia que fiz para ela.Ela não conseguiu ler até o finalporque osContinuar lendo “Ela é a Inocência dos Anjos”
Meus Amigos – Por Érico Marin
Meus amigos já não são os mesmos.Alguns estão mais magros,outros quase casadose os que não se perderam de vez,já encontraram seu rumo. Meus amigos já não são aqueles –músicos, poetas, loucos, bêbados.São agora pais, maridos ou funcionáriose os que não são nada ainda,é porque estão desempregados. Meus amigos agora são assim:de vez em quando parecemContinuar lendo “Meus Amigos – Por Érico Marin”
Sou Inocência dos Anjos
Nasci à porta da igreja, debaixo da pipa, na vasta Preguiça. De lá, de minha terra patrícia, parti olhando sempre em revés e deixando, na poeira da estrada, as lágrimas de minha mãe a acenar um adeus perdido. Entre as dores do mundo novo, ganhei três raras joias. Eis que nunca darei-me conta, mas aContinuar lendo “Sou Inocência dos Anjos”
Anda, que passa…
Desculpe a ausência… acho que passei muitas horas no trânsito. Ignore a impaciência… é escasso o tempo da reflexão. Perdoe a frieza… o inverno gelou a doçura de algumas orações. Mas anda que, hora ou outra, volto com o humor rotineiro. Já passa a cara amarrada… Dizem que é aquele tal de inferno astral.
Sabedoria no olhar
Pode alguém que viveu muito ter pouco conhecimento ou parca sabedoria? Ao vento, a inocência dos anjos pronuncia: Se o novo soubesse e o velho pudesse, não havia o que não se fizesse. O olhar pesado e brilhoso, indecifrável sob as rugas, torna aos nossos precoces olhos a ingenuidade. Dentro do meu louco romantismo, observarContinuar lendo “Sabedoria no olhar”
Pedaço Central
Dessa praça, Dessa catedral, Da Sé à fé meus passos escutaram O arrulhar dos pombos, O metal enferrujado da cadeira de rodas do mendigo, O orador rodeado de plateia. Meus calçados refletem A nuvem cinzenta sobre as rosas, Os carros poluídos de gente, As ruas poluídas de carro, O azulejo e o bronze do EdifícioContinuar lendo “Pedaço Central”
Antiga poesia do eu distante
Do meu antigo caderno de poesias resgato esta em especial, que se destacou aos meus olhos sem explicação racional. Já não vivo mais essa fase tão melancólica, mas a beleza do poema persiste. Morre a Sutilidade E a morte dele deu-se exatamente Por ter-se esquecido de dizer. Mas, dizendo, poderia matar a sutilidade. Alguém temContinuar lendo “Antiga poesia do eu distante”
Terapia panorama
Aqui, do alto do vigésimo sexto andar, vejo a Ataliba a redundar de carros e pessoas; acompanho o reflexo da janela do edifício espelhado que atravessa a avenida ao meio-dia; observo o avião cortar a nuvem e baixar o trem de pouso; esmiúço com os olhos, sem pressa, o contorno da Serra da Cantareira; memorizoContinuar lendo “Terapia panorama”
Roda Gigante
Acredito que a sorte e o azar da vida vêm como em uma roda gigante. Quando surge um problema, parece que irritantemente ele carrega consigo outros tantos piores ou maiores e a gente se vê quase que em desespero quando conclui que nada que fazemos sai certo. De uns meses pra cá, o meu azarContinuar lendo “Roda Gigante”
O tempo pega
O tempo, essa anestesia lenta, engana mas não reclama espaço e nem qualquer dessas inutilidades. E a gente bem que tenta contrariar a constante voz cega… Quem prega essas bobagens? A gente tenta ignorar o cansaço, mas é aí que o tempo pega e inaugura suas complexas montagens, girando todo o compasso. E a genteContinuar lendo “O tempo pega”
Pequenas grades
Um ócio acima do desejado, sonolento, odiado, rejeitado pelos olhos cujas pálpebras insistem em os cobrir. Fuga para leituras alternativas. Algo que traga alguma avidez para o momento. Parco é o resultado. A atenção se desvia, Morfeu retorna. Eis que surge, envolto em uma luz dourada um texto interessante! 15 minutos de leitura e, comoContinuar lendo “Pequenas grades”
Degelo cerebral
Há mais de uma semana que a Paulicéia ferve num verão impiedoso e ‘desvairado’. Não imaginava o saudoso Andrade que seria assim que viveriam “…estes homens de São Paulo, todos iguais e desiguais… uns macacos”: suados, apressados, desinteressados, abarrotados nas lotações, nos metropolitanos e nas calçadas quentes. Será que estamos já a nos acostumar comContinuar lendo “Degelo cerebral”
Ao aniversariante, Casimiro.
Poeta tão brasileiro como este, é raro. Mas das palavras deste jovem patriota, as que mais gosto são as inocentes e apaixonadas. Meus oito anos Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras ÀContinuar lendo “Ao aniversariante, Casimiro.”
Projetos
Momento inspirador e inédito este na minha vida. Por um ano, o planejamento e a construção imaginativa da experiência não atingiram a real sensação do que é estar lá. À conquista, um brinde! E, celebrando os projetos que se concretizam, fica a dica de site para hoje: o Projeto Releituras.
Sinestesia esfumaçada
A passos atrapalhados, a tarde diminui a existência.Trôpega, perde os detalhesE funde o caolho com a cor poética da lua que aponta tímida e envolta na fumaça. A dor é surda…Colocam-se a andar as Dalilas e os Sansãos para, em vão, no vão triste, protegerem-se das rosas. Cortam-se os cabelos, perde-se a força,escoa-se a esperança.Continuar lendo “Sinestesia esfumaçada”
eles leem histórias do semiárido
Eu tive uma ideia! Antes de ir à farmácia comprar uma injeção anti-inflamatória para o meu vizinho antissocial, vou ao mercado comprar linguiça acriana para o meu marido. Depois, preciso que minha filha me ajude e enxágue cinquenta peças de roupa que estão de molho no tanque. E ainda preciso tirar pelo pelo menos doContinuar lendo “eles leem histórias do semiárido”