Mestre pacifista: Doutor Daisaku Ikeda

Poeta e escritor como eu, o honorável Doutor Daisaku Ikeda é um homem que, além de me inspirar, se tornou o meu mestre. É, portanto, uma tarefa imensamente prazerosa elaborar um artigo em sua homenagem.

Grande sábio religioso pacifista e filósofo, Ikeda pratica a fotografia como hobbie, registrando as paisagens e a natureza dos lugares por onde passa.

Ikeda graduou-se na Faculdade Fuji Júnior, na área de economia; é o quinto dos oito filhos de uma família muito pobre. Nasceu no segundo dia de janeiro do ano de 1928, em um Japão totalmente desestruturado, combalido por escândalos políticos e sociais que, consequentemente, enfrentava uma alta imigração. Era nesse cenário de escassez e necessidades primárias que o frágil garoto crescia. Sua família vivia do plantio, colheita e comercialização de algas marinhas. E a instabilidade econômica do país em nada ajudava no momento.

Depois de passar pela Segunda Guerra Mundial e da inimaginável catástrofe das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, sua família e toda a nação japonesa seguiam famintas e desesperançadas sob a opressão do exército norte americano, onde pouca liberdade e respeito podiam ser manifestados. Seus quatro irmãos foram recrutados pelo exército, um deles jamais retornou do front. Foram essas e tantas outras intensas e melancólicas experiências que fomentaram seus esforços para erradicar as causas fundamentais do conflito humano.

Além da dificuldade socioeconômica, sua juventude também foi marcada pela fragilidade da saúde, que sempre contrastou com a sua inabalável fé e busca pelo conhecimento, pois sempre se mostrou um ávido e incansável leitor.

Daisaku Ikeda contraiu uma severa tuberculose entre 1939 e 1940, que se agravou ainda mais durante o trabalho em uma fábrica de armamentos. Porém o seu destino estaria prestes a se transformar…

Eu acredito que, além do contexto místico, foi a sua própria forma de levar sua vida que acabou trazendo-o a se converter ao budismo de Nitiren Daishonin aos 19 anos, quando conheceu o então presidente da SGI, Josei Toda em uma reunião para a qual foi convidado, em 1947.

Enquanto Josei Toda palestrava para alguns convidados sobre questões filosóficas, o jovem audaz pediu permissão com grande deferência e fez três perguntas impactantes:

– Como o senhor definiria uma existência humana correta?

– Qual a sua definição para um verdadeiro patriota?

– Como o senhor encara a figura do imperador hoje?

As perguntas surpreenderam e intrigaram o mestre Toda, que respondeu firme e pacientemente todas as perguntas feitas. E a partir daquele momento, ambos iniciavam profundo vínculo de amizade e respeito. Mais do que isso, eles se tornariam mestre e discípulo. E então, satisfeito com a resposta do líder, Daisaku Ikeda pediu mais uma vez permissão para ler uma poesia que tinha acabado de produzir:

Ó viajante!
De onde vens?
Para onde vais?
A lua desce
no caos da madrugada;
mas vou andando,
antes do Sol nascer,
à procura de luz..
No desejo de varrer
as trevas de minh’ alma,
a grande árvore eu procuro
que nunca se abalou
na fúria da tempestade.
Neste encontro ideal,
sou eu quem
surge da Terra!

Aos 22 anos de idade, com a saúde piorada, Daisaku Ikeda buscou um médico que, após realizar uma minuciosa anamnese e vários exames, trouxe-lhe um sombrio prognóstico de que sua condição física não lhe permitiria viver mais do que 8 anos, sem qualquer perspectiva de tratamento. Desenganado pela medicina, ele dedicou tudo de si a cada dia, como se fosse o último.

Dois anos depois, seu mestre viria a falecer e, aos 32 anos, em 3 de maio de 1960, Daisaku Ikeda assumiu como terceiro presidente da Soka Gakkai. Quinze anos depois disso, ele avançou em seus esforços, fundando a Soka Gakkai Internacional, em 1975, uma organização não governamental filiada à ONU.

Fundador da Universidade Soka, o pacifista vem, desde a década de 1960, dialogando com grandes intelectuais e líderes mundiais em busca de alternativas concretas e soluções aplicáveis para a paz no mundo. Ikeda é um dos maiores empreendedores da paz da atualidade e, por meio das instituições acadêmicas e culturais que fundou, ele busca disseminar uma revolução do pensamento, que é a base humanística da educação Soka.

Acumula 137 títulos acadêmicos, dentre eles o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 2007, foi galardoado com o Prêmio Mundial do Humanismo pela Academia do Humanismo da Macedônia. É atualmente membro correspondente da Academia Brasileira de Letras. Mais de 30 institutos de pesquisa em universidades chinesas se dedicam para estudar as suas obras humanistas. Por acreditar que a educação é o principal meio para o aprimoramento individual, fundou escolas – desde o Ensino Infantil até a Universidade –, fundou instituições culturais como a Associação de Concertos Min-On e o Museu de Arte Fuji, escreveu mais de setenta livros entre ensaios, poesias e romances; e seus escritos já foram traduzidos para mais de quinze idiomas.

Além do extenso currículo, ele tem sido um incansável colaborador com o envio de propostas de paz, desarmamento, educação e meio ambiente às Nações Unidas, o que lhe rendeu indicação ao Prêmio Nobel da Paz.

Eu me converti ao budismo há sete anos e, assim como ele encontrou conexão com Josei Toda, eu encontrei no Mestre Ikeda uma luz como poucas. Suas palavras tocam o coração de seus seguidores e incentivam com sinceridade a felicidade de todas as pessoas. Toda a sua história de vida, de superação e determinação organizada, sua voz altiva e modo de viver austero nos estimulam a sermos sempre melhores pessoas possíveis. Foi lendo os seus livros que eu pude estabilizar e engrandecer grande parte da minha autoestima e por isso eu exercito diariamente a minha gratidão.  

Refletindo profundamente sobre tudo que já realizou e conquistou, ele resumiu com muita simplicidade a história de sua vida:

“Eu cumpri o juramento que fiz ao meu mestre. Eu cumpri o juramento que fiz aos meus companheiros. Eu cumpri todos os objetivos que lancei.”

Hoje, com 93 anos de idade, esse grande desbravador de horizontes superou em muito as expectativas médicas da sua juventude. Ele é o verdadeiro aspecto do significado da Revolução Humana.

“Existe uma única estrada e somente uma, e essa é a estrada
que eu amo. Eu a escolhi. Quando trilho nessa estrada as
esperanças brotam, e, o sorriso se abre em meu rosto. Dessa
estrada nunca, jamais fugirei.”
(Daisaku Ikeda)

Foto

Mt. Fuji, Shizuoka Prefecture, Japan (November 1972) – by Daisaku Ikeda.

Fontes

Publicado por Fernanda Serpa

Formada jornalista há 15 anos, sou produtora de conteúdo freelancer. Especializada em redação web, também tenho grande carinho pela criação de ficções e poesias. Sou budista, mãe do Dante e culinarista por hobbie.

Deixe um comentário