A catarse pré-eleitoral.

250 dias em isolamento.  5.785.101 casos totais contaminação por Covid. 164.392 mortes totais desde o início da pandemia.

Hoje eu soube de duas mortes de pessoas que eu não conheço, mas mesmo assim me entristeci. Poxa, é mesmo devastador esse tipo de notícia que nos chega, pois tem casos em que a gente não conhece a pessoa falecida, mas conhece aqueles próximos a ela e que estão sofrendo. Então, sofremos junto com esses que ficaram no luto e na dor. Somado a isso, a sensação de injustiça e de impotência acumulada nestes nove meses deixa a gente em estados psicológicos tão frágeis que causam, não raramente, crises de pânico, ansiedade, insônia e tantos outros problemas psicossomáticos que até se tornam dores e doenças físicas. 

Em três dias teremos as eleições para vereador e prefeito. Nesta semana eu fui buscar meu título de eleitor nos arquivos e acabei encontrando os comprovantes de votação para presidência em 2018. E algumas imagens passaram na frente dos meus olhos como se fosse um filme: há dois anos foi eleito o presidente, se não a pessoa, mais perverso que eu pude conhecer na minha atualidade. E os impactos ambientais, econômicos, sociais, educacionais estão profundos e enraizados. Não sei quantos anos (cinquenta, oitenta?) serão necessários para recuperarmos todo o retrocesso que vivemos. E me abalou o sentimento de que talvez tenhamos pela frente mais dois anos em trevas, pois já perdi as esperanças de um impeachment. 

Sobre COVID, o Brasil mostrava nas últimas duas semanas uma média de 100 a 200 mortes diárias. Comparado com os meses de junho e julho, em que a média era de mil mortes por dia, é uma queda relevante. Com isso, e também a redução de notícias sobre a doenças devido à proximidade das eleições, muitos cidadãos começaram a atenuar os cuidados de isolamento, por otimismo ou cansaço de tanto tempo desse distanciamento forçado, e passaram a viajar, frequentar locais fechados em multidões. Ontem foram 554 óbitos e hoje registrou-se o total de 33 mil novos casos de infecção e 936 mortes. Estes números podem estar mostrando a tendência para a segunda onda de contaminação, já tão comentada por especialistas microbiologistas e médicos nos meses que se passaram.

Nos Estados Unidos, Donald Trump perdeu para Biden e não conseguiu a reeleição. Fato que trouxe a mídia brasileira a um alerta para possíveis atritos nas relações do país conosco após polêmicas falas do presidente Jair Bolsonaro. 

Eu decidi parar escrever este diário da quarentena há quase três meses por perceber que estava me fazendo um mal danado estar assim tão absorta pelas notícias políticas e cotidianas. Afastei-me, portanto, de tudo isso. Foi um intervalo em que eu criei uma modesta horta junto com o Dante, meu filho. Também pude ter mais tempo para estudar e concluí três cursos de marketing e redação. Avancei com o projeto de design gráfico para as camisetas (que já comentei anteriormente neste diário) e até arrisquei criar alguns desenhos. Confesso que fiquei feliz com o resultado e extremamente empolgada com o breve estudo de paletas de cores que tive. Também neste intervalo decidi fazer uma dieta e já se foram dez quilos embora. Alimentação mais saudável e a vida mais produtiva, porém com alguns problemas ocasionais de manutenção do sono. Nada grave, no entanto.

E por que voltar, então, com a escrita no diário? Sinto-me hoje mais fortalecida e menos comovida pelas notícias quando as leio. A saudável prática de tomar certa distância não é fácil, pois são dados que nos afetam como cidadãos diretamente. Mas como jornalista, devo praticar o ensaio tão necessário. Além disso, é um processo catártico do qual eu já estava sentindo falta. É bom estar de volta.

Publicado por Fernanda Serpa

Formada jornalista há 15 anos, sou produtora de conteúdo freelancer. Especializada em redação web, também tenho grande carinho pela criação de ficções e poesias. Sou budista, mãe do Dante e culinarista por hobbie.

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