Nessa casa vazia,
Esse invólucro que nada tinha,
Formou aos poucos uma morada,
Com muito esmero.
O útero quente e fértil entrega uma vida
E transforma a outra.
Pois nascemos juntas, criatura e criadora.
Madre, fica aqui comigo mais um pouco…
Contempla essa réstia de luz.
Me ensina como comungar com essa dor
Dá-me a sua guarda, que aqui eu te espero.
Vejo-te sempre, assim comovida,
E da culpa toda não te oferecem nem o troco!
Ah, se os momentos todos fossem doces como esse alcaçuz!
Se aquele dedo alheio se recolhesse em seu próprio veneno,
Se o abraço de outrem levasse embora o peso da solidão,
Viveríamos certamente dias de imenso esplendor!
Madre, fica aqui comigo eternamente,
No meu colo, na minha memória, na escuridão.
Madre leva consigo minha alma,
Embala com a sua calmaria entoada de ninar.
Em tua mão, em teus ombros, alivia o meu peso,
que dissolve suavemente na luz.